Fazer exercício pendurado num lenço sem pôr os pés no chão. A prática é recente mas parece que chegou para ficar. Seja na versão holística, que promete trabalhar corpo e a mente, seja em versão fitness, de simples exercício físico, uma coisa é garantida: a sensação de regresso à infância e ao divertimento puro. E não, não há perigo de cair.
Não sei fazer o pino, sempre tive medo de tentar fazer a roda e nunca gostei de baloiços. Digo a mim mesma que já sou demasiado velha para essas coisas, esquecendo que quando era nova já assim era. Mas sou rapariga de modas e quando há mais de dez anos o ioga conquistou o nosso território, fazendo crescer como cogumelos centros de prática em cada esquina, corri atrás da febre para experimentar de tudo um pouco. E fiquei apaixonada.
Com o exercício suspenso não foi diferente.
Yoga Suspenso Há países onde a prática não é novidade, com o nome de aerial yoga ou ioga aéreo (ou ainda fly yoga ou ioga antigravidade), a prática suspensa terá surgido na Índia, ligada ao Hatha Yoga, e terá já séculos de existência.
No ioga dito normal (Hatha Yoga) o praticante utiliza um tapete para realizar as posições onde o padrão é sempre “empurrar o chão”, tornando várias posições extremamente exigentes para algumas pessoas. No ioga suspenso, o trabalho é feito num tecido preso ao tecto, com capacidade para qualquer coisa como 1500kg, que suporta o corpo nas diferentes posições. A exigência continua lá, mas aliada a algum divertimento.
A prática começa no chão, como em qualquer aula de ioga. Faz-se o aquecimento com posturas aliadas à respiração. E só então depois o pano desce e começa a aventura.
Suponho que aconteça com a maioria das pessoas sentir algum desconforto – eu tive medo na primeira vez – principalmente nos exercícios que nos põem literalmente de pernas para o ar, tal qual num número de circo. Mas é exactamente nas posições invertidas que se tiram os maiores proveitos: descomprimir articulações, coluna vertebral, ancas, ombros, etc.
Uma aula de ioga suspenso tem quatro pilares: posturas de Hatha Yoga, desenvolvimento da condição física (potenciando o aumento da força, flexibilidade, equilíbrio, etc.), prática restaurativa (descontrair, relaxar, descomprimir, recuperar) e uma prática mais acrobática – aquela que mais medo me deu, mas de que mais proveito tirei.
Concluída toda a acrobacia, voltamos ao tapete para o relaxamento final. Logo ali sentem-se os benefícios de todas as fases da aula, sem excepção.
Pilates Suspenso – Passa por uma combinação de exercícios destinados a melhorar força, capacidade cardiovascular, postura, alongamento dos músculos e equilíbrio. Uma vez mais, tudo num lenço suspenso a centímetros do chão e com a mesma capacidade de peso.
A modalidade nasceu em 1999 pela mão de Christopher Harrison, ginasta e bailarino que descobriu no ioga a fórmula certa para recuperar de várias lesões profissionais e que mais tarde percebeu que os mesmos exercícios, com a ajuda de um tecido de seda suspenso, reduziam a pressão exercida nas articulações e que pendurar-se de cabeça para baixo beneficiava tanto o pescoço como a anca e a coluna pela descompressão.
Por ser uma modalidade com mais de mil posturas e movimentos (nem todos são praticados em suspensão), o exercício é bastante completo e funciona também como complemento para aqueles que praticam outro tipo de modalidades, como surf, ténis, karaté, etc.
Aqui o aquecimento não é feito no chão, tem logo a ajuda do hammock (pano) e os exercícios são, na sua maioria, baseados em posturas de ioga e pilates. Na segunda aula, já mais familiarizada com esta coisa de estar no ar e com as posições invertidas, consegui relaxar totalmente e até recuei no tempo. Mas desta vez sem temer o baloiço. E é mesmo em baloiço que se termina a aula. Depois de esticar aqui, virar ao contrário ali, usando o tecido como casulo e completamente deitada, fiz o relaxamento final.
Em qualquer das modalidades os instrutores garantem que é fácil ganhar entusiasmo com as conquistas logo na primeira aula, visto que há exercícios que aparentam grande grau de dificuldade mas se mostram simples de executar. Confirmo. A mim – a tal criança medricas – conquistou-me sobretudo o desafio enfrentado e superado de estar no ar e de pernas para o ar. Um reforço para o amor-próprio e a autoconfiança, sentimento, aliás, que levamos connosco para fora da sala de aula.
É certo que quem tenha um passado de ioga ou pilates tem mais facilidade nas aulas, mas o importante é que todos podem fazê-la, por ser fácil e adaptável a cada praticante. Outra vantagem é o número reduzido de alunos por aula (uma questão de logística), que permite termos o professor quase por nossa conta.
Consegui tirar proveito de todas as aulas e divertir-me imenso, mas percebi que o sentimento não é unânime. Há quem fique enjoado de início, quem se queixe de dores de cabeça no final. Mas há também entusiastas infantis como eu.
Fiquei com uma certeza: seja ioga suspenso, seja pilates suspenso ou outra modalidade suspensa (há uma grande diversidade no ar para todos os gostos), uma só aula é pouco para se usufruir totalmente das potencialidades dos exercícios e do divertimento. É preciso ganhar confiança e à-vontade para testar os nossos limites. E para isso é preciso tempo. Para mim, acredito, será agora uma questão de tempo até tirar teimas e experimentar o pino ou a roda. É o mínimo, depois disto”
In Jornal I – 2014